O descaso é grande: lixo, buracos, falta de iluminação na rua e insegurança crescente. Prefeitura diz que terreno está em processo desapropriação para a construção de parque, mas não dá prazo para a obra.
Moradores do entorno da extinta Universidade Gama Filho (UGF), na Piedade, na Zona Norte do Rio, sofrem com o abandono do local. A prefeitura desapropriou o terreno e prometeu construir um parque no local, mas ainda não há prazo para a obra. E os vizinhos não aguentam mais a falta de atenção do poder público na região.
Os prédios da Gama Filho continuam se deteriorando. O bloco onde funcionava o curso de engenharia está cheio de entulho, de lixo e com muitas coisas quebradas, como a estátua em homenagem a Santos Dumont, que está destruída.
“Ao longo do tempo foi tudo roubado, tudo furtado. Tem pessoas morando aí. Então, fica uma certa insegurança para nós aqui do bairro”, conta o morador André Miranda.
No prédio principal não sobrou quase nada, a não ser destruição. Grades, portões, portas e janelas, praticamente tudo foi roubado nos últimos anos. A fachada foi totalmente pichada e o mato cresce por todos os lados.
Quem mora no entorno diz que o local está sendo frequentado por pessoas sem-teto e usuários de drogas, como conta a dona de casa Estela Maria Graça de Carvalho.
“Sobem no muro da nossa vila. Eu moro numa vila, sobem no muro, enfrentam a gente”, falou a moradora.
O campus da Gama Filho tinha um importante complexo esportivo, que chegou a ser usado por atletas de ponta. Mas agora, está tudo abandonado. A sensação é de que o local se transformou numa cidade fantasma, como disse o morador Paulo Roberto Cortês.
“Você passa aqui, hoje, dá tristeza. Hoje em dia, se você quiser vender uma casa sua aqui, vai ficar totalmente desvalorizado. Quem é que vai querer morar num lugar assim?”.
A costureira Leiliane Ribeiro também reclama da insegurança que afasta clientes da região por causa do abandono do campus da universidade.
“Eu tive muito prejuízo, porque sou costureira caseira. Hoje, não tenho mais cliente, não tenho uma renda. Quer dizer, isso impactou muito a minha vida e a vida de todos aqui”, disse a costureira.
utro prédio que está em completo estado de abandono é o do antigo curso de medicina. No começo deste ano, o RJ1 mostrou que até esqueletos de cadáveres usados por alunos nas aulas de anatomia estavam expostos.
O ex-funcionário Júlio César dos Santos, que trabalhou 12 anos na Gama Filho, reclama do descaso.
“Ver essa situação assim é triste, é de abandono mesmo, né? Uma tristeza no peito, no coração”, disse o ex-funcionário.
Acidente na calçada
Do lado de fora do campus também há relatos de descuido. A moradora Maria Ferreira contou que, este mês, o marido dela caiu num dos buracos na calçada. Ele foi levado para o hospital e levou 14 pontos no ferimento.
“Aqui fica muito escuro. Não tem lâmpada aqui, porque eles quebraram a lâmpada do sinal. Aí, ele não viu o buraco, caiu dentro do buraco”, contou a moradora.
Os moradores dizem que a violência vem piorando a cada dia na região.
“Eu mesmo já fui assaltado aqui, deve ter uns três meses, levaram meu documento, meu celular”, disse Paulo Cézar dos Santos.
A vizinha Estela destaca o estado de abandono da região.
“Você passa aqui 20h, você fica sem a roupa”, disse sobre o risco de assaltos.
Economia do bairro despencou
Depois do fechamento do complexo universitário da Gama Filho, o bairro da Piedade foi muito prejudicado. Todo o entorno do campus já teve uma importância econômica muito grande para a região. Atualmente, todo o comércio local está fechado.
Alguns prédios residenciais foram construídos e estão prontos para receber os novos moradores, mas ainda falta muito a ser feito para revitalizar a área.
“Tinha de tudo, tudo que você imaginar aqui, nós tínhamos. E agora? Agora não tem mais nada. Ninguém está investindo nada. Enquanto não houver um projeto definitivo e que tenha um começo, para gente sair desse abandono”, disse Santos.
O abandono da Gama Filho já dura quase oito anos. A universidade fechou em 2014, depois que o Grupo Galileu, que controlava a instituição, faliu.
Em março deste ano, o prefeito Eduardo Paes publicou decreto no Diário Oficial desapropriando o terreno da universidade para fins de utilidade pública. A ideia é criar, no local, o Parque Piedade, com áreas de lazer, esporte e cultura para o bairro.
Segundo a prefeitura, a elaboração do projeto deve terminar em dezembro. A empresa de engenharia Aquacon venceu a licitação para fazer o projeto de arquitetura e urbanismo, no valor de R$ 912 mil.
“Se pudesse, além do parque, uma UPA, uma clínica da família, um mercado, um supermercado aqui, Corpo de Bombeiros, um posto avançado da Polícia Militar, seria ótimo aqui. Para ver se melhora esse bairro aqui, porque ele é muito esquecido”, disse um morador.
O que dizem os envolvidos
A Prefeitura do Rio disse que o prédio da Gama Filho está em processo de desapropriação e que a responsabilidade de manutenção ainda é dos donos do terreno.
Em relação às pessoas sem-teto, a prefeitura diz que só pode atuar mediante determinação judicial, já que o imóvel está em desapropriação.
Sobre a sujeira no entorno, a prefeitura afirma que a Comlurb faz a limpeza diária e semanal das ruas da região.
A Secretaria de Conservação disse que vai enviar uma equipe para vistoriar o local e fazer os reparos necessários na calçada da antiga universidade.
Sobre a falta de segurança, a Polícia Militar afirmou que o batalhão do Méier faz ações ostensivas no bairro de Piedade e que mantém uma equipe do programa Bairro Presente fazendo rondas na região.
Ainda de acordo com a PM, houve queda de 14,6% nos roubos a pedestres na área do batalhão, na comparação do primeiro semestre desse ano com o segundo semestre do ano passado.
Créditos repostagem: g1.com