Especialistas falam sobre influência de redes sociais, com edição dinâmica e descontraída. Nesta semana, o g1 publica série de reportagens para explicar novidades da produção pornô.
Em seu laboratório, uma cientista olha com seriedade para tubos de ensaio com líquidos coloridos. Do nada, resolve tomar o conteúdo desses tubos: atitude pouco recomendada para uma profissional em um ambiente deste tipo. Por sorte, o líquido só faz com que sua roupa íntima mude, ficando da mesma cor de cada substância ingerida. Ela se diverte com a experiência, até que um dos tubos faz com que suas roupas sumam de seu corpo. Impressionante.
Essa descrição não é a de um vídeo de mágica. O roteiro acima é de um vídeo erótico de curta duração. O pornô TikTok já é uma realidade para quem acessa sites adultos. A estética dos vídeos curtos comuns ao TikTok, aos Reels do Instagram e aos Shorts do YouTube estão influenciando o que é publicado fora dessas redes sociais. O conteúdo erótico e pornô, claro, não escapa disso.
Há exemplos dentro e fora dos principais sites de pornografia. O PornHub vem testando uma nova seção dedicada aos vídeos curtos: o PornHub Shorties. Há ainda sites só com conteúdo pornô de curta duração, todos usando nomes para lá de oportunistas. TikTits, TikPorn e outros emulam de forma descarada o layout e a ideia do TikTok. São quase uma paródia dessa rede social.
Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens para explicar as novidades da produção de conteúdo pornô. Vídeos inspirados no TikTok, influenciadoras que fazem “avaliação de pau”, o lucrativo mercado da “venda de packs” e casas de conteúdo estão entre tendências.
Hanna Joy, que usa o nome artístico XoHannaJoy, em vídeo de site adulto com estética do TikTok — Foto: Reprodução/Canal da atriz no Pornhub
“A forma como estamos consumindo todo tipo de conteúdo, do entretenimento às notícias, vem mudando e é claro que muito disso é decorrente da ‘tik tokzação’. Estamos cada vez mais ‘moldando’ o nosso cérebro a querer respostas, ‘conhecimento’ e interações sociais instantâneas”, opina Lídia Cabral, fundadora da plataforma Tech4Sex, especializada em sextechs, startups do mercado de bem-estar sexual.
O conteúdo pornô inspirado no TikTok busca manter o espectador atento, com novos estímulos quase a cada segundo. “O pornô por si só já é potencialmente ‘viciante’ e sendo adaptado a estes novos formatos em que os conteúdos são mais ‘amadores’, interativos e explícitos, tem tudo para ser uma combinação bem ‘perigosa’.”
Ela acrescenta que muitos dos criadores do pornô nesse estilo geram conteúdo curto e com estética TikTok em busca de chamar atenção e “atrair usuários” para outras plataformas onde conseguem ganhar dinheiro, como é o caso do Onlyfans. São uma amostra grátis divertida.
É o caso da modelo espanhola Hanna Joy, que usa o nome artístico XoHannaJoy. Ela costuma postar vídeos curtos com estética TikTok (veja trechos desses vídeos no topo) em seus canais nos sites de conteúdo. No caso dela, a influência vai além da duração dos vídeos. A estética bebe das redes de vídeos rápidos: tudo parece uma trend erótica. Sutiãs somem ou mudam de cor em questão de segundos e frutas se transformam em partes do corpo humano instantaneamente.
A vez do amadorismo
Influenciadora brinca com filtros em vídeo publicado em site de conteúdo adulto — Foto: Reprodução/Canal da atriz no Pornhub
No PornHub, as categorias “amadores” e “realidade” vêm crescendo ano a ano. Na comparação entre 2022 e 2021, por exemplo, a busca por vídeos com estética caseira cresceu 179%. A subida dessas categorias nos rankings mostra que os usuários estão em busca de conteúdos mais “originais” e “reais”.
Essa seria mais uma explicação para o sucesso dos vídeos curtos entre os produtores de conteúdo adulto: essa produção é naturalmente mais caseira, não parece que há uma empresa envolvida. A produtora ou produtor de conteúdo apenas pegou o celular e resolveu gravar um vídeo com edição rapidinha, bom humor, alguma boa sacada e, claro, nudez.
“Pode ser que tenha mais chances de alcançar novas audiências, porque será beneficiado pelo algoritmo, uma vez que as plataformas estão investindo neste formato de conteúdo. Se isso é ‘bom’ para a sociedade como um todo? Não, porque tem questões que podem ser ainda mais agravadas como vício em pornografia, acesso de adolescentes a conteúdos adultos, percepção distorcida sobre sexo ou prazer, entre outras questões”, analisa Lídia.
“Com a quantidade de informações disponíveis, muitas pessoas preferem conteúdos mais curtos para absorverem rapidamente o que precisam. A praticidade é a chave”, resume Julio Beltrão, diretor artístico da Mynd, agência de marketing e influência.
Para Beltrão, as redes de vídeos curtos são uma grande influência hoje. Por isso, há mais “vídeos curtos com elementos visuais vibrantes, edição dinâmica, trilhas envolventes e uma abordagem mais descontraída e autêntica” em todas as áreas, incluindo a de conteúdo adulto.
“Isso incentiva a criatividade, a narrativa concisa e o engajamento rápido. Criadores de conteúdo tendem a adaptar seu estilo para se alinharem a essas plataformas, enfatizando a estética moderna”, contextualiza o diretor artístico.